O-Arauto-Jocoso

Não me deixe esquecer a tua voz Como soa ao pé do ouvido Porque as pedras estão todas erodidas No castelo do nosso amor de outrora Lembro de tuas mãos espalmadas no mogno Todos os carteados nas madrugadas vãs O molho madeira nos talheres abandonados Pratos quebrados, copos vazios Chegamos a um impasse: Tu, a sete palmos debaixo da terra Eu, caminhando sobre a tua sepultura... Ainda segurando o cutelo da tua morte O fato é inescapável Não há intercâmbio de vivos e mortos Agora reina o silêncio Reverberando nas cavidades cardíacas

Vou dar uma olhada em cada ser aqui presente Um pedaço de unha está desaparecido Mas os cabelos estão todos aí As mãos, os pés, os umbigos Mas não se pode esquecer, é claro    dos cartões de crédito.

Eu não penso nada porque não há nada para ser pensado. Assim como um cérebro que é dilacerado no açougue do tempo. Não há mais palavras nas línguas cortadas. Só a mudez desastrosa, trágico laconismo das almas modernas... Socorro, meu Deus!

As peças que estavam separadas alinhei E as que estavam unidas separei Sim, Discórdia, cada instante é um pesadelo Quando se quebram garrafas numa praia vazia